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Prince of Persia: The Lost Crown é um legítimo MetroidPersia — Análise | Dicas

Imagem oficial de divulgação do jogo Prince of Persia The Lost Crown
Reprodução: Ubisoft

O Príncipe da Pérsia está de volta aos consoles da atual (e da finada mas ainda resistente) geração, pelas mãos da Ubisoft. Prince of Persia: The Lost Crown traz novos ares para a franquia, revitalizando uma série que estava ao mesmo tempo "cansada" e esquecida, e inaugurando um novo gênero na indústria de videogames: O MetroidPersia. Afinal de contas, podemos dizer que Vania já está morta e enterrada.


Nessa nova aventura, controlamos Sargon, um dos sete Imortais que estão destinados a defender o reino da Pérsia quando ele está em perigo. Prestes a sucumbir perante uma invasão contra o reino, a rainha convoca os heróis, e estes cumprem seu papel de dar um fim glorioso às batalhas, deixando seu reino aparentemente livre e capaz de prosperar. Mas o jogo vira quando o então Príncipe da Pérsia é sequestrado por um de seus aliados, e cabe a você descobrir o que está por trás dessa traição. Digamos que os Imortais são um grupo de heróis bem egoístas e desunidos.


Assim, então, começa a jornada de Sargon pelos arredores do místico Monte Qaf, onde navegaremos em um mundo complexo e diversificado. Prince of Persia: The Lost Crown bebe abundantemente da fonte de seu gênero, o metroidpersia, e consegue tempo para criar coisas que ainda não tinham sido vistas, além de oferecer desempenho exemplar e diversão ininterrupta ao jogador.


TANTO PODER NA PALMA DAS MÃOS

Imagem do jogo Prince of Persia The Lost Crown mostrando o personagem em uma plataforma em frente a uma porta de luz ainda fechada
Reprodução: Ubisoft

É importante salientar que essa análise foi feita com a versão de Nintendo Switch do jogo, e talvez seja a melhor forma de analisá-lo, uma vez que não é surpresa para nenhum dono da atual plataforma da Nintendo que a Ubisoft, quando quer, é uma das desenvolvedoras mais competentes e capazes de entregar algumas das obras mais bonitas e bem otimizadas já vistas nestes quase 7 anos do aparelho.


Dentre estes trabalhos, estão os impecáveis Mario + Rabbids Kingdom Battle e Mario + Rabbids Sparks of Hope, que são exclusivos por trazerem personagens da Nintendo em sua essência, e dois dos jogos mais tecnicamente impressionantes do console, além do excelente, porém subestimado Starlink: Battle for Atlas, que não é um jogo exclusivo mas que possui uma campanha de Star Fox no Switch, em que Fox e sua turma vivem uma aventura espacial com os personagens humanos do jogo, com direito a chefes clássicos da franquia e até uma DLC de história.


Dito isso, não surpreende ninguém ver The Lost Crown rodando, na maior parte do tempo, a 60fps cravados no Switch com o personagem deslizando pelos cenários igual um tablete de manteiga em uma frigideira muito quente.


Podemos dizer que, mesmo não sendo a primeira vez que a série flerta com o gêneros de plataforma 2D, sem dúvida alguma é a primeira vez que isso traz um fruto minimamente bom. E quando eu falo minimamente bom, é apenas para ilustrar a expectativa do que poderíamos esperar da série depois de tanto tempo sem uma iteração nova. Pegando a todos de surpresa e superando todas as expectativas, Prince of Persia: The Lost Crown é excelência dentro de seu gênero.


BOM MESMO É SE PERDER

Tela de captura do jogo Prince of Persia: The Lost Crown
Reprodução: Ubisoft

Os desenvolvedores decidiram abraçar o metroidpersia com toda a força possível. A obra, inclusive, permite ao jogador escolher entre dois modos ao começar uma nova aventura, sendo eles: o modo de navegação guiada, em que pontos de interesse e marcadores de missões aparecem no mapa, indicando o destino; e o modo de navegação livre, em que esses marcadores não estarão presentes e a navegação pelo labirinto de opções que existem nos diversos caminhos disponíveis depende única e exclusivamente de você.


Essa ideia de acessibilidade é genial para abraçar novos jogadores, já que estamos diante de um dos mapas mais completos e complexos do gênero, com dezenas de caminhos que confundem o jogador e podem acabar te levando a lugares que você não está preparado para ir com o armamento que possui. Não se engane com as passagens bloqueadas, elas apenas te impedem de seguir com a história cedo demais, mas nada vai te impedir de cair em um calabouço onde você estará em uma clara desvantagem em relação aos inimigos e precisará literalmente lutar por sua vida.


Imagem do mapa do jogo Prince of Persia The Lost Crown
Reprodução: Ubisoft

Apesar da eventual liberação do sistema de "Viagem Rápida", o vai e volta tradicional dos metroidpersias está presente. Aqui o jogo se embriagou nas fontes de Metroid Dread e Hollow Knight, oferecendo uma navegação ligeiramente guiada, como uma mão invisível que tenta te puxar para o caminho correto, mas existe uma “expertise” a ser adquirida dentro do gênero para vê-la, e saber quais caminhos são adequados para percorrer as longas distâncias de ir e vir o tempo todo, já que, se você se perder, precisará percorrer duas ou três vezes o percurso inicialmente intencionado.


Fique atento aos seus arredores, pois algumas passagens são praticamente invisíveis, e muitas delas levam a colecionáveis que serão úteis em sua aventura! E aqui, mais uma vez, a fonte do metroidpersia transborda para dentro do jogo: a recompensa é maior para quem termina com 100% dos itens que precisam ser coletados.


Entretanto, não precisa se desesperar caso faça parte do grupo dos esquecidos ou que se perde com muita facilidade. The Lost Crown foi muito generoso com a criação de um sistema infalível tanto para os esquecidos como para os complecionistas. O Fragmento de Memória permite que o jogador tire uma foto do cenário, que fica atrelado ao mapa, na localização em que o personagem se encontra naquele momento, uma ferramenta extremamente útil para registrar onde está aquele baú que até então parece inalcançável ou uma passagem de acesso bloqueada. Essa foto ficará com um marcador no mapa do jogo, indicando o local, e permitindo que você a veja sempre que quiser, para ter certeza se você já tem ou não o recurso necessário para acessar o que antes era inacessível.


Imagem demonstrativa do recurso Fragmento de Memória do jogo Prince of Persia The Lost Crown
Reprodução: Ubisoft

Ou seja, agora você não precisa mais tirar uma tela de captura do jogo e ficar pausando a jogatina para acessar o álbum e tentar lembrar daquele lugar que você viu e ficou com medo de esquecer e…

…o jogo faz isso por você!


"MAPA PRA QUE TE QUERO"

The Lost Crown possui um mapa diverso, que cerca o misterioso Monte Qaf com biomas únicos e cheios de identidade. Áreas que estão interligadas entre si ajudam a compor um intrínseco sistema de exploração em looping, em que, muitas vezes, quanto mais você se afasta de seu destino em tortuosos caminhos cada vez mais pequenos, mais perto você está dele, pois a rota nem sempre é em uma linha reta.


As ambientações do palácio, de florestas, calabouços (e outros lugares que não irei nomear para não estragar a surpresa de quem ainda não jogou) funcionam de forma independente, com fauna e flora próprias, ao mesmo tempo em que se fundem com todo o restante do mundo, desenhando um complexo sistema que envelopa toda essa complexidade e variedade em um material único e coeso.


Existe uma NPC que, além de ser a mais carismática do jogo, também é vendedora de mapas. E ela oferece, por um preço verdadeiramente razoável, a possibilidade de comprar a visualização completa de cada uma das áreas do jogo (assim como o cartógrafo de Hollow Knight). Os jogadores que não gostam de se perder vão se sentir aliviados com isso, já que, por mais que nada realmente mude com essa informação, afinal de contas as passagens continuam funcionando na tentativa e erro, saber onde alguns caminhos se encerram tira um pouco da sensação de claustrofobia que um mapa metroidpersia pode trazer. Já os jogadores que gostam de ser desafiados a cada segundo podem optar por simplesmente não comprar os mapas. E assim, cada sala será uma surpresa, sem jamais saber o que vem a seguir.


É importante salientar que o jogo possui uma variedade grande de passagens secretas que oferecem acesso a salas sem saída com itens importantes, e que estas não estão mapeadas, mesmo com o mapa comprado.


Imagem do jogo Prince of Persia The Lost Crown com o personagem principal ao lado de um baú e com um ajudante em formato de olho que ilumina o caminho
Reprodução: Ubisoft

HABLA, KINGO… QUER DIZER… PRÍNCIPE

Todas as cutscenes do jogo são dubladas. Mas aqui vale ressaltar que nem todas receberam o mesmo carinho na língua padrão do jogo. Não existe áudio em PT-BR, então o áudio mais próximo e que já vem marcado como padrão é o inglês. É aqui que moram algumas dublagens bem canastronas, incluindo a do protagonista. Personagens secundários acabam se saindo melhor e conseguindo mais carisma de quem os performa.


Mas nem tudo está perdido! O jogo possui uma dublagem persa, que é deliciosa do começo ao fim. Além de fornecer uma identidade mais consistente ao material, ela traz vozes mais imponentes e que combinam melhor com os personagens. E mesmo que você não entenda a língua e não consiga absorver o que está sendo dito, as legendas em português farão este trabalho por você. É a Ubisoft apenas fazendo o bom trabalho que sempre fez e localizando o jogo em nosso idioma, mesmo que seja apenas em texto.


DESAFIE-SE

Todas as configurações escolhidas ao começar uma jogatina nova podem ser alteradas a qualquer momento no menu de configurações. Incluindo a dificuldade. E dificuldade o jogo oferece de sobra.


O sistema de batalhas é tão diverso e fluido quanto o restante do jogo, oferecendo recursos que vão sendo liberados enquanto você explora, permitindo que um leque de possibilidades seja aberto diante de seus olhos e fazendo com que você se esqueça com muita facilidade como era jogar sem o recurso que você acabou de ganhar.


Os inimigos, diversos em habilidade, formato e intensidade, oferecem desafios que nem sempre são balanceados com o que você possui, e isso é um recurso muito comum em metroidpersias, porque te faz pensar se você realmente deveria estar naquele lugar, ou se sem querer não fez uma curva errada e acabou em um ambiente que poderia ser explorado mais pra frente, quando suas armas estivessem mais fortes e você estivesse carregando mais poções de cura.


Imagem do jogo Prince of Persia The Lost Crown na batalha contra um chefe que tem a forma de um javali gigante
Reprodução: Ubisoft

Alguns encontros são implacáveis e colocarão à prova sua habilidade em executar combos e truques que foram ensinados durante seu percurso. Recursos de defesa como bloqueio, desvio e projéteis arremessados à distância podem e devem ser parte do seu modo de agir a todo momento. Porque, no final das contas, apenas o ataque tradicional pode sim te levar à vitória em (quase) todas as situações, mas também pode te deixar em situações bastante precárias. Portanto, absorva e execute tudo o que o personagem aprender, pois a prática leva à perfeição, e perfeição é uma exigência de alguns chefes do jogo.

 

JOGO BONITO, JOGO FORMOSO

E, claro, não dava pra ir embora e apagar a luz antes de exaltar a beleza gráfica do jogo. O estilo adotado para essa iteração da franquia proporciona um trabalho menos “realístico”, e oferece espaço para traços mais cartunescos, linhas contínuas e cores mais vivas, como já havíamos visto nos excelentes episódios de Assassin’s Creed Chronicles. As cores terrosas do palácio se misturam com a explosão de tons vivos dos personagens e inimigos, criando uma paleta diversificada e que salta aos olhos.


A direção artística é eclética, misturando cutscenes que incorporam a estética do gameplay com alguns momentos de traços retos e completamente desenhados, criando um espetáculo visual capaz de ilustrar perfeitamente cada momento de sua jornada pelo fascinante reino que você é destinado a salvar.


Imagem do jogo Prince of Persia The Lost Crown em uma cena não interativa com o personagem derrubando um inimigo do cavalo com suas espadas
Reprodução: Ubisoft

O design dos personagens é diversificado, e contrasta com a personalidade de cada um, começando pelos imortais que fazem parte do seu grupo, explodindo de criatividade em dezenas de NPCs únicos e interessantes, e culminando em um todo coeso, com os inimigos, os chefes e a forma como tudo se completa, sem parecer um emaranhado de coisas colocadas aleatoriamente em um ambiente.


O desempenho e a fluidez do jogo facilitam a apreciação de toda a beleza aplicada nos cenários. A forma como os planos de fundo do cenário interagem com o posicionamento do personagem dão vida ao mundo que se abre diante de seus olhos, e não existe uma única ambientação que não desperte uma sensação de “poxa, olha que coisa linda”.


O PRÍNCIPE ESTÁ EM SUA MELHOR FORMA

O príncipe mesmo, de fato, está em perigo no jogo, mas a esperança é que o Prince of Persia não esteja em perigo dentro da Ubisoft, uma vez que ela entregou um dos melhores jogos já desenvolvidos dentro da empresa.


A imagem de sua principal franquia em atividade (Assassin's Creed) precisa de descanso, franquia essa que nada mais é do que uma grande homenagem à grandiosidade que Prince of Persia teve na trilogia Sands of Time. Agora é a hora certa de investir em coisas novas, nos restando torcer para que os engravatados percebam como isso é refrescante para a indústria e para a própria Ubisoft, e que existe um desejo por um investimento maior em projetos menores como esse, sem o olhar megalomaníaco dos mundos abertos e das explorações sem fim.


Imagem do jogo Prince of Persia The Lost Crown com o personagem sobre um círculo de luz que funciona como porta e está vinte e cinco por cento desbloqueada
Reprodução: Ubisoft

Quem sabe assim não possamos vivenciar novas surpresas e aventuras como as de Sargon e seus companheiros em sua jornada pelos tortuosos caminhos da exploração metroidpersia?



Texto editado e revisado por Gabriel Morais de Oliveira (@GabrielHyliano).




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2 comentarios


Que texto maravilho. A prosa, as descrições e analogia. Se eu tava com vontade de jogar o jogo, agora ela quadriplicou. Obrigado, Angelo!

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Contestando a

Obrigado pelas palavras, senpai

Daqui um ano ele tá no "precinho Ubisoft" e eu recomendo forte.

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