
Em nenhuma das vezes que joguei Mario Party me lembro de qual deles joguei. Mal me lembro dos minijogos, dos tabuleiros ou dos personagens, mas algo que nunca esqueço são as pessoas com quem joguei e os momentos que compartilhamos. Super Mario Party Jamboree entendeu isso e extrapolou sua filosofia.

Lançado em 12 de outubro de 2024, é o décimo terceiro jogo da franquia Mario Party, que resgata personagens da franquia Mario em uma gameplay de tabuleiro virtual com minijogos simples e criativos. Naturalmente, isso já é uma fórmula de sucesso e, talvez por isso, nunca foi necessário pensar muito sobre qual deles jogar.
Se você joga board games (jogos de tabuleiro), sabe que há um fator social que engrandece seu design e, para muitos jogos, é o cerne de sua filosofia. Conhecidos como party games, são jogos para se jogar em festas, ou melhor, game design para socializar, em que a ênfase da gameplay é provocar a interação, o diálogo ou o caos. A expressão desses jogos é serem jogados junto, e são seguros de seu potencial de narrativa emergente.
Por exemplo, não precisamos de nenhum contexto interno para jogar UNO; são apenas cartas e números, mas ainda assim geram momentos icônicos e histórias inesquecíveis, afinal, o impacto social é o que importa nesses jogos. Eles podem ser muito mais acessíveis para pessoas que não costumam jogar e podem ser muito mais impactantes também. UNO se apoia no contexto externo de uma festa, reunião familiar ou um encontro com amigos. O foco nisso é claro e intencional.

A franquia Mario Party resgata essa mesma essência dos jogos de festa e a traz para o virtual, com dinâmicas feitas para se jogar junto. Porém, diferente de um jogo de cartas, imerge quem joga em todo um universo colorido, dinâmico e fofo. Para além disso, traz muitas ferramentas virtuais para apoiar uma narrativa emergente, e claro, o fator narrativo na manipulação de resultados do jogo com a famosa "sorte". Não seria a primeira vez que a Nintendo usa a mágica do game design para forjar momentos únicos que, para nós, parecem puro acaso, mas que, na verdade, são fruto do incrível "acaso" do game design.
Durante suas várias iterações, talvez o balanço entre o social e o contexto intrínseco seja justamente o que mais mudou nessa franquia, e em um mundo de isolamento social cada vez mais forte, em que se reunir com a família é cada vez mais raro, sair para festas é cada vez mais caro e ter amigos é cada vez mais difícil, Jamboree busca uma ênfase no aspecto social — mas não presencial.
Eu me lembro com quem joguei Mario Party. Lembro-me de momentos que, até hoje, ainda registrados, não consigo parar de ver e pensar: como estávamos felizes. Nesses momentos, pouco importam os pontos que fizemos, os minijogos que jogamos, os itens que coletamos ou o número que saiu no dado. O objetivo de todo mundo ali era se divertir, e Mario Party entrega essa diversão. O que me faz pensar: o mesmo sentimento existe em um contexto virtual?

Já joguei muitos jogos de tabuleiro virtuais e, apesar de me divertir muito, falta algo. Um olhar, um gesto, um sorriso, uma risada, um xingamento jocoso, uma provocação — são fatores que vêm no conjunto do jogo de tabuleiro. Quando estamos jogando virtualmente com amigos, podemos entender que parte desse momento social ainda está presente, existe e é lindo também, mas e se estamos jogando com pessoas desconhecidas virtualmente? Esse fator começa a sumir, e é aqui que traço um ponto de provocação para Mario Party Jamboree.
O foco no social é nítido aqui, permitindo jogar minijogos de todo tipo, com uma acessibilidade enorme. Somos capazes de escolher o tipo de controle, inclusive desabilitar minijogos que exigem controle de movimento, o que é um grande acerto para jogos desse tipo. Além disso, traz uma função de organização de partidas online, permitindo que você não apenas compita com estranhos, mas também faça parte de um ranking interno, instigando uma competitividade e possibilitando o envio de emotes para os adversários enquanto jogamos, emulando a interação social clássica dos tabuleiros.
Mas preciso dizer que foi mais divertido usar isso de forma tóxica contra os bots do que contra pessoas que estão jogando comigo. Afinal, podemos simplesmente falar, o que é muito melhor e insubstituível. Nesse ponto, Mario Party Jamboree abre mão de uma rigidez interna, ainda mantendo sua magia de criar momentos únicos, mas com uma ênfase maior no social, na interação entre pessoas, como é costume da série — mas agora, em uma escala virtual online maior. Não acho que substitui nenhum tipo de interação party game que já tivemos, mas é um excelente jogo para se jogar em uma festa, com amigos, presencialmente — como todo Mario Party é.
Agradecemos gentilmente à Nuuvem pela parceria, apoio e envio de uma chave de Super Mario Party Jamboree para análise. O jogo pode ser comprado neste link.
Texto editado e revisado por Maya Souza (@ShinMayanese). Você também pode gostar de: The Penguin: opressões de gênero, o novo drama policial e as peripécias da Rata Alada — Análise
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