Com o terceiro filme do Mercenário Tagarela já disponível, decidi dar vida a esse projeto pessoal que sempre tive vontade de fazer. A "Gibiteca Eletrônica", como apelidei carinhosamente, é um guia de leitura de quadrinhos que nasce da vontade que eu tenho de compartilhar e (possivelmente) convencer mais pessoas a darem uma chance aos quadrinhos americanos.
E para começar, nada melhor do que trazer o incrível Wolverine, protagonista de uma biblioteca riquíssima e cheia de quadrinhos sensacionais! Aos leitores, separei algumas das minhas histórias favoritas, além das edições originais que elas se encontram e os encadernados disponíveis aqui no Brasil para referência, então se prepare pra anotar as indicações e boa leitura!
Você também pode gostar de: Saori e Athena: Cavaleiros, Amor e Justiça — Especial Cavaleiros do Zodíaco: Parte 1
Origem
Roteiro: Paul Jenkins
Arte: Andy Kubert
Colorização: Richard Isanove
Após o sucesso estrondoso dos filmes dos X-Men pela Fox, a Marvel Comics decidiu que já havia passado da hora de contar as origens do carcaju. Publicada originalmente em 2001, a história nos mostra finalmente como foi a infância e adolescência de Logan.
Com uma história concebida pela mente de Paul Jenkins, que anteriormente havia conquistado a confiança dos fãs ao trazer inúmeras histórias mais pesadas e adultas para o selo Marvel Knights, o autor pega toda sua experiência com personagens “difíceis” e as aplica com cuidado e sinceridade no amado mutante. A arte fica por conta da dupla de Andy Kubert e Richard Isanove. Kubert já era amado pelos fãs dos Filhos do Átomo desde que ficou encarregado da publicação principal de Os Fabulosos X-Men, e pela icônica saga da Era do Apocalipse. Isanove ficou responsável pela colorização.
A obra foi muito bem elogiada pela forma como abordou temas sobre hiper proteção, transtorno dissociativo de personalidade, perda de memória devido a traumas de infância e suas consequências. Após a leitura, o personagem do Wolverine se torna uma pessoa ainda mais humana e relacionável.
O filme de 2009, X-Men Origens: Wolverine, foi levemente baseado nessa história, com Logan nascendo em uma família rica e fugindo após seus poderes mutantes despertarem. Infelizmente, a qualidade do filme não chega nem perto de seu material fonte.
Contendo com apenas 6 capítulos, Wolverine: Origem é uma leitura obrigatória para quem deseja aprender sobre as raízes do personagem. A HQ possui algumas edições em português como a Coleção Oficial de Graphic Novels da Editora Salvat, e uma Edição Especial da Panini.
Relevância: 8/10. Por si só, uma boa leitura, mas pode-se argumentar que não é exatamente essencial para o que vem depois sobre o personagem.
Wolverine por Claremont & Miller
Roteiro: Chris Claremont
Arte: Frank Miller
Apenas os nomes da dupla criativa (quase maior que o próprio título) na capa já devem convencer fãs antigos de que essa é uma obra de arte. As lendas Chris Claremont (responsável por impulsionar os X-Men à posição de equipe número 1 da Marvel por muitas décadas) e Frank Miller (Demolidor: O Homem Sem Medo; A Queda de Murdock; Cavaleiro das Trevas) se uniram para fazer, até então, a primeira história solo do Wolverine. A popularidade do personagem na publicação principal dos X-Men foi tanta, que a Marvel não mediu esforços ao juntar esses dois para dar ao carcaju a história que ele merece. E que história!
Na trama, Logan narra pela primeira vez sobre um amor que conheceu no Japão, Mariko Yashida, quando viajou para lá para treinar as artes de combate dos samurais. De uns tempos para cá, porém, ele tentou de várias maneiras reatar esse contato, mas não ouviu mais notícias dela. Preocupado, ele viaja para Tóquio em busca de Mariko.
Os traços de Miller buscavam refletir as artes japonesas tradicionais, como o famoso mangá “O Lobo Solitário” como uma das principais referências para a identidade visual da obra. Em muitos painéis se nota os olhos grandes nos personagens e os traços e feições dos rostos muito bem detalhados, fazendo a chegada de Logan ao Japão ser muito mais autêntica.
Claremont dispensa apresentações quando o caso é desenvolver seus personagens, mas aqui, tendo a oportunidade de focar no Wolverine como nunca pôde antes, o mutante floresce e demonstra o seu lado mais sensível e vulnerável por trás do rabugento e briguento que todos conhecemos.
No cinema, o filme Wolverine – Imortal (The Wolverine, no original) de 2013, buscou adaptar essa exata HQ. Infelizmente, tanto como seu antecessor, a versão para as telonas foi muito insuficiente e a produção foi (novamente) massacrada pela crítica e pelos fãs.
Reproduzindo a viagem de Logan ao Japão, o filme introduz rostos conhecidos da HQ (como Yukio), mas mistura com muitos elementos e acaba se tornando uma verdadeira bagunça (como a presença totalmente desnecessária do Samurai de Prata e a Víbora, vilões de outros arcos do personagem). O charme do material original vinha da condução que os autores fizeram ao levar o leitor por uma Tóquio até então desconhecida, mas familiar para o protagonista, e por mais que a sua versão audiovisual atinja o mesmo impacto, não chega a ser do mesmo nível do que a da fonte em que está bebendo.
Na HQ, com história narrada pelo próprio Logan, o protagonista afunda em sua própria ansiedade ao passar a acreditar de que não é nada mais do que uma fera incontrolável, consumida pela fúria. Um Wolverine selvagem, bruto e sedento por sangue em um momento, e na página seguinte um garoto frágil, dependente e inseguro que nunca realmente aprendeu a lidar com sentimentos como o amor. Essa contradição e equilíbrio iluminou os olhos dos leitores de que há muito mais por trás dessa casca grossa.
“Como vou saber antes de tentar? Claro, é assustador, mas qual a alternativa? Estagnação? Uma forma mais segura, terrível da morte. Um animal sabe e aceita o que é. Mas um homem questiona. Ele sonha. Ele cresce. [...]”
No Brasil, a história recebeu o subtítulo de “Eu, Wolverine”, e foi publicada diversas vezes pela Panini, sendo a versão mais recente do selo “Marvel Essenciais”.
Relevância: 10/10. Sendo considerada por muitos como a melhor aventura solo do carcaju até hoje, era impossível a ausência dela nessa lista.
Kitty Pryde & Wolverine
Roteiro: Chris Claremont
Arte: Allen Milgrom
Esse é, muito provavelmente, o título menos conhecido dessa lista. Ainda assim, em termos de qualidade, bate de frente tranquilamente com os demais.
Novamente com o lendário Chris Claremont no roteiro, dessa vez unindo forças com Al Milgrom (um artista com um vasto currículo incluindo colorização e arte de capa nas publicações de X-Factor, Vingadores da Costa-Oeste e vários outros títulos escritos por Jim Starlin, o co-criador do Thanos e amigo de longa data. Al também co-criou o personagem Nuclear, da DC Comics).
Claremont faz o que sabe fazer de melhor aqui, entregando uma história emocionante sobre dois mutantes icônicos dos X-Men. A essa altura, o que ele é capaz de fazer com Wolverine já não deveria ser mais uma surpresa, considerando o título anterior dessa lista, mas é o que ele faz com Kitty Pryde que realmente é digno de elogios.
Servindo como uma “pseudosequência” de “Eu, Wolverine”, a trama novamente se passa no Japão. Dessa vez, entretanto, é Kitty quem decide ir para a terra do Sol nascente. Voltando para casa em Deerfield, Illinois, após terminar seu namoro com Piotr (o Colossus), Kitty procura viver uma vida “normal” ao invés de ser super-herói e salvar o mundo. Infelizmente, ao chegar em casa, ela descobre que seu pai, um banqueiro, pode estar sendo chantageado pela Yakuza, que está levando-o para Tóquio a “negócios”. Kitty decide segui-lo escondida num avião.
Não muito depois, os criminosos descobrem a descuidada garota e ela se vê em fuga pela cidade japonesa. Ela eventualmente é capturada por ninguém menos que Ogun, o antigo sensei de Wolverine que o ensinou a arte da katana. Antes, porém, ela consegue ligar para o carcaju rapidamente, e ele logo percebe que algo está errado.
A partir deste ponto é que a história começa realmente a se desenvolver. Sem entrar muito em território de spoiler, a trama explora diversos temas com maestria. Um dos mais interessantes, por exemplo, é a relação entre os dois protagonistas. Aqui ao invés de termos novamente aquele Logan sofrendo para lidar com seus interesses amorosos, ele assume um papel de mentor para Kitty (e por extensão uma figura paterna também, o jogando em conflito com o pai biológico da menina). Ver toda a experiência e sabedoria de um homem vivido, que já passou por diferentes situações de vida ou morte passar tudo para uma garota que, até então, é o completo oposto de tudo isso. Mimada, impulsiva e ingênua, Kitty vai de um pirralha sem noção nenhuma da vida para uma mulher determinada, confiante e decidida. Wolverine não mede esforços para colocar a garota em forma.
Aqui, Claremont novamente aproveita essa oportunidade para demonstrar sua fascinação e admiração pela cultura nipônica, incluindo até a participação do samurai mais famoso do mundo: Miyamoto Musashi (figura histórica que inspirou vários aspectos e tradições dos métodos dos samurais).
É realmente impressionante como cada personagem na obra tem sua importância e um papel a cumprir. Desde o antagonista principal, Ogun (que por si só se mostra aquele tipo de vilão que você adora odiar, visto a manipulação, invasão e assédio psicológico que ele inflige em Kitty), até outros menores como Carmen Pryde (o pai de Kitty que passa por seu próprio arco de redenção), Shigematsu (o líder da Yakuza), e Yukio (a amante de Logan da última história). O ponto é: Claremont faz milagres ao conseguir dar tanta atenção e carinho a todos esses personagens numa minissérie tão curta.
Dito tudo isso, a cereja do bolo fica, obviamente, aos dois protagonistas. Ao final da obra, Wolverine novamente se vê numa situação que ele mesmo odeia: deixar sua fúria berserker tomar conta e resolver tudo para ele, ou assumir responsabilidade pelas suas ações e agir como um homem, ao invés de uma fera?
“Tem uma parte de mim que poucas pessoas vivem para contar a história. É a parte que eu não tenho controle. Ela não pensa, não sente dor. Ela mata. [...]”
Para Kitty, esse arco é extremamente crucial para a personagem. Pois é durante essa história que ela assume sua identidade mais icônica: a Lince Negra (Shadowcat, no original).
“Eu nem me reconheço mais. A pessoa refletida na janela é uma estranha. Eu não tenho o cabelo curto assim desde que era um bebê. Cortá-lo foi outra decisão que Ogun fez por mim. Eu era a boneca dele – Um brinquedo que ele iria moldar à sua imagem. Se eu nunca tivesse me juntado aos X-Men, não estaria nessa confusão. Seria tão ruim ter vivido uma vida normal? É muito tarde pra tentar? Ir pra faculdade, casar com um cara, ter filhos, viver feliz para sempre. É o que a maioria das mulheres querem – então por que eu não? Não importa o que meus pais querem de mim. Eu não sou mais uma gatinha, eu cresci. Eu sou uma gata, eu prefiro as sombras muito mais do que a luz. Lince Negra. Gostei. [...]”
Em sumo, essa obra em particular é um salto enorme tanto para Logan, quanto para Kitty. Se o Homem-Aranha já foi um exemplo perfeito de como abordar um herói em crescimento, aprendendo sobre responsabilidades e obrigações, o surgimento da Lince Negra aqui apenas agrega ainda mais a esse arquétipo de personagem, mostrando uma garota que desconhece a realidade dura do mundo evoluindo através da conscientização do que é ser um X-Men e as consequências que vem junto desse fardo.
Particularmente, espero que um dia algo desse tipo possa ser abordado nas telas, trazendo Kitty como uma personagem da qual os fãs mais novos possam se identificar, e Wolverine como um mentor de respeito com muitas coisas para ensinar.
No Brasil, a minissérie foi publicada pela Panini como parte de A Saga dos X-Men, no volume 5.
Relevância: 8/10. Apesar de ser uma história maravilhosa, o foco desse guia é mais no Wolverine, e mesmo tendo um desenvolvimento fantástico, sinto que no grande esquema das coisas essa obra em particular favorece mais a Kitty e seu amadurecimento do que ao Logan. Ainda assim, vale muito a leitura.
Arma X
Roteiro e arte: Barry Windsor-Smith
Edições: Marvel Comics Presents #72-84 (1991)
Escrita e ilustrada por Barry Windsor-Smith, um amado quadrinista que criou sua reputação trabalhando nas edições de “Conan, o Bárbaro” na década de 70. Mas é “Arma X” a sua mais famosa (e sinceramente, merecida) obra.
Esse arco foi um ponto de parada extremamente marcante para a trajetória do mutante: como Logan foi de suas garras ósseas vistas em “Origem”, para as suas icônicas lâminas de Adamantium.
A premissa da história é bem simples: Wolverine é emboscado e dopado com tranquilizantes, sendo sequestrado e levado a uma instalação isolada nas montanhas do Canadá, onde é preso e feito de cobaia contra a sua vontade. Em termos de sinopse, é isso. Mas essa HQ brilha nos seus detalhes e no trio de protagonistas que, surpreendentemente, não conta com o próprio Logan.
Arma X é um projeto ultrassecreto financiado pelo governo americano, com o propósito de criar armas biotecnológicas para lutarem as suas guerras. Mais tarde seria revelado no cânone da Marvel que a Arma I era nada menos que a criação do Capitão América com o soro do Super Soldado, e as “Armas” subsequentes foram tentativas falhas de reproduzi-lo. Isso é importante pois Logan foi ninguém menos que a próxima vítima do programa, e ele era um ótimo candidato devido às suas habilidades de mutante.
No centro da trama estão o doutor Abraham Cornelius, um cientista fracassado na sua área de especialização que foi visto com bons olhos pelo governo e chamado para encabeçar o experimento. Junto dele há a doutora Carol Haines e o enigmático Professor (seu nome nunca é revelado nesse título, apenas em obras futuras). Esses três “zés ninguéns” atuam como os personagens principais e todo o processo de injetar o metal no carcaju e transformá-lo numa arma letal é vista, narrada e experienciada por eles. O Wolverine em si quase não fala (até porque, a oportunidade raramente surge) mas sua presença é constante e serve como um lembrete ao leitor de todo o horror e desumanização que lhe é infligido, enquanto os cientistas enxergam tudo como um passo necessário em prol da ciência e do avanço militar.
A maneira como a narrativa é entregue é diferente, mas genial. Windsor-Smith trabalha as suas cores de maneira tão eficiente, ao ponto de dar funções a elas. Os três protagonistas possuem as suas próprias: Cornelius veste um jaleco amarelo, a mesma cor dos seus balões de fala; O mesmo ocorre com Haines, usando um uniforme rosa e balões rosa; E o Professor traja uma vestimenta militar verde, assim como seus balões. Parece algo bobo de mencionar, mas o autor consegue te guiar tão naturalmente pelas falas que você se vê não só interessado pelo que cada um tem a dizer, mas também passa a conhecer a personalidade deles e onde as suas bússolas morais se encontram. Não é um exagero dizer que esses personagens evoluem durante a história, alguns ficando mais cruéis, outros mais apáticos e outros com um sentimento de culpa.
Ainda sobre as cores, totalmente ludo narrativas, elas conseguem ser, ao mesmo tempo que presentes e vívidas, ainda tristes e sórdidas. Como? Um painel pode estar representando uma sala bem iluminada, mas o foco sempre estará nas sombras batendo nos rostos dos personagens e nunca os mostrando em detalhes totais. Sempre nessa atmosfera sombria, de que algo (ou tudo) está errado.
Vale mencionar, com finalidade de informar, que o filme X-Men Origens: Wolverine de 2009 mencionado no primeiro item da lista acima, também bebeu muito de Arma X. Mas da mesma forma que decepcionou os leitores de “Origem”, com certeza decepcionou em adaptar essa obra máxima de Windsor-Smith.
Descrever Arma X é, para mim, muito mais difícil do que os demais itens nessa lista. Isso é porque essa é uma HQ que você sente, você a deixa te levar numa viagem que te mostra, novamente, uma pobre criatura que tenta ser um homem num mundo que insiste em transformá-lo num monstro. E de todas as histórias listadas até agora, essa é a que mais me faz entender essa dualidade do personagem. Aqui, você não encontrará um final feliz e muito menos um senso de satisfação, talvez muito pelo contrário.
Quanto as edições publicadas no Brasil, há a versão da Salvat, que hoje se encontra extremamente rara, e o relançamento mais recente da Panini, pelo selo “Marvel Essenciais”.
Relevância: 10/10. É impensável pular essa etapa do personagem, servindo não só para responder uma das maiores dúvidas em relação a ele, mas também para entendê-lo muito melhor.
Inimigo do Estado
Roteiro: Mark Millar
Arte: John Romita Jr.
Colorização: Klaus Janson
Edições: Wolverine #20 – 31 (2004)
Quando a Marvel decidiu dar a Mark Millar (autor de Os Supremos, versão dos Vingadores do universo Ultimate, além de Guerra Civil, e criador de Kingsman) o cargo de roteirista para o novo volume do Wolverine e emparelhá-lo com John Romita Jr. (artista dos maiores arcos de O Espetacular Homem-Aranha, embora resumir seu currículo gigantesco a apenas esse título seja um desserviço), ela inconscientemente deu vida a uma das maiores duplas de quadrinistas de todos os tempos.
Esses dois viriam a trabalhar em diversas obras juntos, além de serem o duo responsável por Kick-Ass, uma das maiores HQs de todos os tempos. Acho que é desnecessário dizer o quão bem trabalhada é essa história do carcaju. Fica aqui, como exemplo e para admiração, o mutante estripando um tubarão branco (por que não?).
Durante toda essa lista batemos na tecla de como a humanidade quer usar Logan como sua arma pessoal, e o dilema de vida que ele sofre entre abraçar seus impulsos bestiais ou tomar as rédeas da sua vida como um homem. Pois bem, aqui, a Arma X finalmente foi colocada em prática.
A trama começa quando Itsuro, o motorista de um milionário japonês, tem seu filho Rikuto sequestrado. O alvo era o filho do milionário, que brincava com Rikuto quando o ataque aconteceu, sendo confundido pelo outro garoto e levado por ninguém menos que o Tentáculo, a organização terrorista ancestral de ninjas. Itsuro é ninguém menos que primo de Mariko, a agora falecida ex-esposa de Logan, e usa esse contato para pedir o favor ao mutante de resgatar seu filho.
Infelizmente, tudo era uma armadilha orquestrada por Gorgon, um poderoso mutante que se aliou à causa do Tentáculo. Ele mata Logan e o ressuscita com as técnicas da organização, e o vira contra seus antigos aliados através de lavagem cerebral. Gorgon ainda une forças com a Hidra do Barão Von Strucker, juntando as tecnologias avançadas deles com o poder do Tentáculo, tendo basicamente os dois exércitos ao seu comando. Além, é claro, da arma viva mais letal do mundo, Wolverine.
Com todos esses recursos a sua disposição, Gorgon faz Logan se infiltrar na torre do Quarteto Fantástico e rouba vários planos de armas nucleares e universais de Reed Richards, o Senhor Fantástico, projetadas para derrubar criaturas celestiais como Galactus. Tendo os esquemas em mãos, um grande ataque se inicia nas maiores forças de super-heróis do mundo, incluindo a própria família do mutante, os X-Men. A HQ vê o protagonista sendo obrigado a lutar fatalmente contra vários de seus aliados do universo Marvel como Demolidor, Elektra, Capitão América e Homem de Ferro.
A dupla dinâmica de Millar e Romita Jr. se veem livres e soltos para mostrar a brutalidade do carcaju. Sob a publicação do selo Marvel Knights, a divisão de quadrinhos mais adultos da editora, Inimigo do Estado não poupa os olhos dos leitores com o sangue e a carnificina que as garras de Adamantium podem causar.
Acho importante mencionar aqui que “Inimigo do Estado” como o nome do arco é conhecido, é apenas a primeira metade da história completa. A segunda metade é chamada de “Agente da S.H.I.E.L.D.” e segue imediatamente de onde a primeira acaba. Mas não se preocupe, essa conveniência é apenas para simplificar o título nos encadernados, pois todos vêm com a trama completa e todos os seus 12 capítulos.
O motivo da mudança no meio da história é bem simples: Primeiro, pois ela foi publicada num volume recorrente de Wolverine, e essas histórias nunca têm a intenção de serem encadernadas em edições posteriormente, e nunca se sabe se elas vão chamar a atenção do público antes de serem lidas. O segundo motivo é mais por questão da própria trama mesmo. Onde na primeira metade vemos Logan cometendo atrocidades contra a sua vontade, na segunda vemos ele livre do controle da Hidra e do Tentáculo, agora tendo que lidar com o peso esmagador na sua consciência de tudo que havia feito nos últimos dias.
Nessa segunda parte, ele deixa seu espírito vingativo o consumir e vai atrás de Gorgon sob as ordens de Nick Fury (por isso o nome “Agente da S.H.I.E.L.D.”) e se alia a Elektra para frustrar os planos de Richards de serem executados pelas mãos dos vilões. Wolverine remete ao fator que causou tudo isso: o falso resgate do menino japonês que não passava de uma armadilha. Uma isca que Logan mordeu e iniciou eventos dos quais ele paga o preço até hoje.
Uma história brutal que finalmente responde à pergunta: e se a letal Arma X fosse utilizada pelas mãos erradas? E a resposta é aterrorizante e sangrenta. Vidas inocentes são postas em risco pelas garras de um herói, alguém que deveria defendê-las.
Quanto as edições brasileiras, o selo Marvel Essenciais da Panini novamente oferece uma opção bem-acabada e até recente do arco.
Relevância: 9/10. Além de agregar muito para a lore do carcaju, Millar puxou muito dessa sua história como um dos argumentos para o eventual Ato de Registro Super-Humano, o responsável pela Guerra Civil que estava por vir.
Logan
Roteiro: Brian K. Vaughan
Arte: Eduardo Risso
Edições: Logan #1-3 (2008)
Esse é provavelmente o item mais curto da lista, com apenas 3 capítulos. Ainda assim, ouso dizer que é um dos melhores aqui listados.
Escrita por ninguém menos que Brian K. Vaughan, ganhador de 14 Eisner e alguns deles pela sua maior criação dentro da Marvel: Os Fugitivos. Após ganhar a confiança total da Casa das Ideias com suas inúmeras obras primas, Brian foi presenteado com um desejo que sempre teve: escrever Wolverine, um dos seus personagens favoritos da editora. Por isso, essa é uma das HQs escritas com maior paixão, carinho, e força de vontade. Unindo tudo isso à belíssima arte de Eduardo Risso, outro ganhador do Eisner em 2002 pela melhor arte, e você tem uma das histórias mais profundas e reflexivas do carcaju.
Creio que a essa altura da lista, já deixou de ser surpresa para todos o quão o Japão é atrelado e enraizado no cânone do Wolverine, tendo suas mais importantes histórias se passando no país asiático. E aqui, revisitamos o lugar. Mais especificamente, Hiroshima, há apenas 1 dia antes da bomba nuclear devastar a cidade durante a Segunda Guerra Mundial.
A trama também é a mais simples, mas assim como a bomba, impactante. Logan, sendo canadense, guerreava pelos Aliados, e é capturado pelos japoneses do Eixo, sendo mantido em uma cela de prisão. Um dia, um americano misterioso chamado Warren é preso junto com ele. Os dois escapam, e, durante a fuga, se deparam com uma mulher local. Warren ameaça matá-la, mas Logan a defende dizendo que é apenas uma civil. Os ex-companheiros de cela se separam, e a mulher decide cuidar dos ferimentos dele. Ambos compartilham segredos durante a única noite juntos, e em apenas essa noite, magia é feita nas páginas desse gibi e um evento que marca a memória de Logan para sempre.
O trecho acima de Vaughan resume bem a obra: “ORIGEM nos introduziu ao garoto. X-MEN nos mostra o herói. LOGAN finalmente revela o dia que o homem nasceu. Há três coisas que eu gostaria de realizar com essa nossa minissérie: 1) Criar uma história que mostrasse os talentos do Eduardo Risso. [...] 2) Contar uma história do Wolverine que pudesse ficar lado a lado com a minissérie original do Miller e do Claremont. Logan vai ser um clássico atemporal que vai agradar tanto fãs de longa data dos X-Men, quanto aos desejados leitores que só conhecem o personagem pelos filmes. [...] 3) O Japão e a Segunda Guerra Mundial sempre foram um elemento importante do passado de Wolverine, e eu queria representar eles de uma maneira mais realista.”
Achei pertinente destacar este trecho pois vem das palavras do próprio autor o seu desejo de fazer com que mais pessoas despertem o interesse na história do Logan fora da mídia mainstream. Não me entendam errado, eu absolutamente adoro o Hugh Jackman, mas o personagem vai muito mais fundo do que as histórias solos medíocres que a Fox fez nas telonas.
Sobre edições brasileiras, tem uma da editora Panini por um preço até ok, considerando o tamanho da obra.
Relevância: 10/10. Como o nome da matéria diz, isso é um guia de quadrinhos, portanto coloquei “Origem” em primeiro e este em último por um bom motivo: “Logan” fecha com chave de ouro o tema mais mencionado dessa lista: a evolução de um indivíduo taxado por todos como um monstro, uma fera incontrolável que veio a acreditar ser uma, que foi desumanizado e usado como arma, até um homem maduro, consciente de suas ações e em paz com quem ele é por dentro. Se ler todos os itens citados aqui em ordem, tenho certeza que ao virar a última página dessa HQ, você sentirá uma sensação de ciclo fechado.
O Velho Logan
Roteiro: Mark Millar
Arte: Steve McNiven
Edições: Wolverine #66-72 e Wolverine: Old Man Logan Giant-Size (2008)
Coloco “O Velho Logan” aqui como uma menção honrosa, já que este é um universo alternativo (Terra-807128). Ou pelo menos era, antes do Doutor Destino mesclar todo o multiverso em um só durante suas Guerras Secretas, mas isso é um conto para outro dia. O fato é que essa história está a parte do universo principal da Marvel (Terra-616) e não se aplica ao cânone do Wolverine. Ainda assim, vale muito a pena a leitura e por isso decidi a incluir no final dessa lista. Confira abaixo como é os EUA nesse mundo alternativo:
A história se passa num futuro pós-apocalíptico onde os super-vilões tiveram a “brilhante” ideia de fazer o óbvio: para cada 1 herói, existe uma dúzia ou mais de vilões. Com essa conta básica em mente, todos decidem se unir e derrubar os principais grupos de heróis do planeta, um por um. O resultado é simples: o mundo é finalmente dominado pelos vilões e se torna um lugar horrível de se viver. Os Estados Unidos, agora chamado de Amerika, tem seus territórios divididos entre eles, sendo a costa oeste do Hulk (pois Banner cedeu a loucura), a região de Las Vegas foi para o novo Rei do Crime (após esse usurpar o trono do Magneto), o centro do país para o Doutor Destino e a costa leste, onde fica a capital de Washington, para o Caveira Vermelha.
A trama vê Logan há mais de 50 anos após a dominação mundial, vivendo pacificamente num vilarejo remoto nas colinas da Califórnia, onde se casou e teve duas crianças. Por algum motivo ainda desconhecido, ele jurou nunca mais recorrer para violência, e suas garras não saíam dos seus braços há décadas. Estando no território da gangue dos Hulk, Logan e sua família devem pagar um “tributo” aos seus senhores para garantirem “proteção” a sua terra.
Um dia, ele não consegue juntar dinheiro suficiente e é espancado, sem revidar, recebendo o aviso de que se não pagar o dobro até o próximo mês, sua família seria assassinada. Num momento de desespero, Logan é visitado por Clint Barton, o Gavião Arqueiro, que agora está cego (mas ainda consegue acertar todas as suas flechas, por algum motivo). Clint lhe oferece um trabalho: dirigi-lo até Nova Babilônia, na costa leste do país, ou seja, do outro lado dos EUA. Logan pergunta o porquê e Clint diz que precisa levar uma carga importante até lá e necessita de proteção. Por mais que suspeite de início, o velho carcaju não vê muitas escolhas e aceita realizar a escolta.
Essa é a premissa da obra. Aqui começa uma road trip entre os dois (agora velhos) ex-heróis pelo país americano. O tema principal da narrativa é o de um arquétipo que já se viu e ainda vê muito na ficção: um homem traumatizado que não tem nada a perder. E a pessoa que não tem mais o que perder, é o tipo mais perigoso que existe. A HQ nos leva por um universo da Marvel nunca visto antes, com uma pegada steelpunk bem aos estilos de Mad Max. Durante a viagem toda somos introduzidos às versões bizarras e diferentes nunca vistas antes de personagens famosos do cânone da editora (vide o tiranossauro Rex com simbionte do Venom acima). Todos agora com motivações e visões distorcidas e medonhas sobre o mundo. Afinal, a realidade deles é bem mais dura e desesperançosa se comparada a um mundo otimista e brilhante cheio de heróis que já se foi.
Obviamente, não deve ser mais surpresa pra ninguém lendo isso que essa obra inspirou diretamente o aclamado terceiro filme solo do carcaju, Logan de 2017. Após duas adaptações bem duvidosas de aventuras solo do mutante (X-Men Origens: Wolverine e Wolverine: Imortal) baseadas nas HQs de Jenkins e Claremont, respectivamente, a Fox finalmente acertou em cheio ao pôr Hugh Jackman na equipe criativa do longa e deixar ele trabalhar na sua até então “despedida” do personagem com chave de ouro.
Com a substituição do Gavião Arqueiro pelo Professor X de Patrick Stewart e a adição da X-23, a filha genética de Logan (interpretada pela talentosa Dafne Keen), o filme baseou-se nas fundações principais de O Velho Logan e pôde entender como transmiti-las para as telonas. Filme altamente recomendado!
Sobre a equipe por trás dessa HQ, temos novamente Mark Millar retornando ao roteiro (de Inimigo do Estado) e junto dele ninguém menos que Steve McNiven, o mesmo artista que desenhou a que é provavelmente uma das obras mais conhecidas de todos os tempos: Guerra Civil (também escrita por Millar). Com essa dupla simplesmente lendária, é de se esperar uma qualidade altíssima em todos os aspectos. Como visto nas imagens acima, a arte de McNiven é de se pôr em um museu.
Vale atentar também que, de todos os itens dessa lista, esse é tranquilamente, sem uma sombra de dúvidas, o mais graficamente pesado. Esforços não são poupados ao mostrar um idoso com facas no lugar dos punhos retirando todo tipo de parte do corpo humano. Tripas, órgãos, cabeças, o que você puder imaginar, está presente aqui.
E sobre as edições publicadas no Brasil, temos várias edições (devido a grande popularidade da obra). Duas da Panini, sendo uma sob o selo Marvel Essenciais e mais fácil de achar, e outra da antiga Coleção Oficial de Graphic Novels da Editora Salvat. Fiquem com as capas delas abaixo:
Relevância: 3/10. Como citado acima, O Velho Logan se passa numa realidade alternativa (apesar de ele estar junto ao principal nas histórias atuais da Marvel), então não agrega muito na mitologia geral do personagem. Ainda assim, não é a HQ mais popular do herói à toa. Se tiver interesse, será uma grande leitura!
Com isso chegamos ao fim da Gibiteca Eletrônica do Wolverine! Esse é um dos meus personagens favoritos da Marvel devido ao seu design e poderes únicos, mas também a uma personalidade e história que te deixam pensando “o cara já sofreu o suficiente, deixa ele ser feliz um pouco!”
A próxima será do Deadpool, para completar o duo do novo filme “Deadpool & Wolverine”. Aguardo vocês por aqui no próximo capítulo, e espero que tenham gostado!
Texto editado e revisado por Gabriel Morais de Oliveira (@GabrielHyliano)
Já pensou em fazer parte do no nosso grupo do Discord? Lá temos vários eventos, materiais de estudo e uma comunidade incrível esperando por você. É só clicar aqui!
Siga o Game Design Hub nas redes sociais!
Komentarze