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Conscript nos mostra a faceta cruel da guerra — Análise

Conscript é uma adição curiosa e muito bem-vinda nesta volta dos survival horrors no mercado, assim como outros jogos também vêm fazendo. Só que, dessa vez, não estamos enfrentando monstros e zumbis, como de praxe, mas sim a Primeira Guerra Mundial, algo que eu nunca imaginei que casaria tanto com o gênero.

 

Considerando o que foi a falta de preparação para o que iria se estender durante quatro anos em trincheiras sujas e inúmeras mortes das piores formas possíveis, utilizar o conflito mundial foi uma ideia que sempre pareceu certa: unir os medos dessa guerra, com os anseios que as mecânicas de survival horror aplicam ao jogador.


Em Conscript, controlamos um soldado francês que está em uma das batalhas mais conhecidas da Primeira Guerra, a Batalha de Verdun. Essa batalha, que durou muito tempo e resultou em muitas mortes, ganhou o apelido cínico de "o grande moedor de carne de Verdun".

No jogo, o soldado está procurando por seu irmão, que, após ser ferido e ver sua trincheira invadida pelos alemães, desapareceu. Este é um fato verídico: na Primeira Guerra, os soldados não eram divididos em diferentes locais; cidades inteiras eram enviadas para um único fronte de guerra, o que resultava em poucos homens retornando para casa. Irmãos perdiam irmãos, amigos perdiam amigos, o que abalava a moral dos soldados que eram obrigados a lutar em uma guerra motivada pela ganância de países imperialistas para manter territórios na África, com seu estopim no assassinato de Franz Ferdinand, o Arquiduque do Império Austro-Húngaro, que hoje em dia corresponde a vários países após a queda da monarquia.


A guerra não é um arcade

Quanto aos detalhes históricos da Primeira Guerra, Conscript faz muito bem sua tarefa de casa, e entusiastas históricos, como eu, ficarão bem servidos com a ambientação rica e cheia de referências. 


Há vários documentos que fornecem contextos históricos sobre os terrores da guerra, através dos pontos de vista dos autores dos diários. Acho que um dos pontos mais fortes do jogo é a ambientação. Mesmo com gráficos pixelados, lembrando a era do PlayStation 1, a câmera isométrica permite uma visão ampla, sem perder detalhes, mas sim acrescentando a eles.


As trincheiras sujas, os cartuchos de morteiros espalhados, os buracos de bombardeios e os corpos de pessoas mortas ou agonizando no chão trazem uma sensação desconfortável ao jogador. O medo em muitos survival horrors vem tanto das mecânicas quanto da ambientação, e Conscript acerta em cheio. Não é um medo de susto, mas sim um desconforto, uma tristeza ao ver essas pessoas lutando em uma guerra pelos interesses financeiros das grandes monarquias da época.


Os inimigos que enfrentamos também são humanizados. Normalmente, em grandes jogos de guerra, matamos sem nos importar. Conscript faz questão de lembrar que esses inimigos também são humanos e estão em uma situação deplorável. Alguns caem no chão sem morrer e ficam agonizando; outros imploram por suas vidas após serem feridos, e alguns ficam parados com as mãos na cabeça, com medo. Quando os matamos, podemos coletar fotos de suas famílias, o que torna tudo ainda mais aterrorizante.


Sound Design

Outro ponto que contribui para a imersão é o som. Os passos na lama, nos cartuchos ou na madeira são extremamente bem feitos, assim como os sons de fundo de armas sendo disparadas, explosões, gritos de soldados e aviões sobrevoando.

Jogabilidade

Em termos de gameplay, o jogo não inova muito no gênero survival horror, mas, ao olhar mais de perto, percebe-se que, mesmo sendo o primeiro jogo de Jordan Mochi, ele parece entender bem os acertos e erros dos clássicos do gênero. O sistema de cadáveres, por exemplo, lembra o sistema de crimson heads de Resident Evil 2002. Se não queimarmos os corpos, ratos os devoram, atacando o jogador caso ele se aproxime.


Com o inventário limitado a 8 espaços (ou 6 no modo mais difícil), carregar um isqueiro e combustível ocupa espaço precioso, forçando o jogador a tomar decisões estratégicas. Além disso, nas trincheiras, podemos explodir buracos de ratos com granadas, o que, embora pareça redundante, se mostra útil em certas situações.


Sistema de combate

O sistema de combate também apresenta inconsistências. É preciso mirar com calma para aumentar a eficiência das armas. O dano varia conforme o tempo de preparação da arma, seja ela corpo a corpo ou de longa distância. No entanto, algumas vezes, os tiros não acertam o alvo como esperado, o que pode ser frustrante. Além disso, há um sistema de mira que reflete o estado emocional do protagonista: quanto mais medo ele sente, mais difícil é estabilizar a mira. Podemos usar bebidas alcoólicas para acalmar os nervos, mas isso exige ocupar mais espaço no inventário.


Level Design

O level design é bem elaborado, com áreas seguras posicionadas nos extremos do mapa, o que força o jogador a explorar e enfrentar desafios para poder salvar o progresso ou armazenar itens. O jogo oferece checkpoints bem distribuídos e a opção de salvar sem depender de itens específicos, o que ajuda a reduzir a frustração.


Conclusão


No geral, Conscript é um jogo que consegue unir de forma habilidosa os elementos de survival horror com a brutalidade da Primeira Guerra Mundial. A narrativa, a ambientação e a mecânica de jogo proporcionam uma experiência tensa e imersiva, que mantém o jogador constantemente alerta. Embora apresente alguns problemas técnicos e de design, a experiência de jogar Conscript é marcante e envolvente, especialmente para os fãs do gênero e entusiastas de história.



Texto editado e revisado por Gabriel Morais de Oliveira (@GabrielHyliano).




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