AMOR À SEGUNDA VISTA
Durante toda a minha vida, nunca tive um computador potente para jogar videogames de última geração. Por isso, sempre que largava o meu PlayStation 2 e pegava o humilde notebook da minha mãe para fuçar, me contentava com Minecraft ou clássicos que eu baixava mesmo sem entender muito bem o que estava fazendo. Meu primeiro contato com Half-Life foi mais ou menos assim. Aos onze anos de idade, de repente, eu estava explorando um aclamado jogo lançado cinco anos antes do meu nascimento. No entanto, como toda criança indecisa e desfocada em meio a tantas opções, definitivamente não dei à obra a atenção que ela merecia. Foi só mais tarde, com um pouco mais de interesse e maturidade, que dei uma chance real ao clássico da Valve, o qual me conquistou mais do que eu esperava, com sua imersiva narrativa e ritmo excelente. De repente, vi-me apaixonado pela franquia, jogando todos os seus jogos em sequência (algo que não costumo fazer).
Recentemente, investi em um computador mais robusto, o que me permite testar jogos que no antigo notebook eu não conseguia. É nesse contexto de amor à segunda vista que mergulhei de cabeça para experimentar o remake feito por fãs, Black Mesa. O que achei? Você confere a seguir.
É HALF LIFE, MESMO NÃO SENDO HALF LIFE
Black Mesa é uma experiência totalmente nova, e foi muito enriquecedor encará-lo dessa maneira desde seus primeiros momentos. Apesar de ser surpreendente em termos de fidelidade, especialmente em sua primeira metade, continua sendo uma reimaginação. Isso significa que toma certas liberdades quando necessário, sem muitas restrições.
A simples ideia de estar imerso neste universo sob um novo motor gráfico, com um visual renovado, trilha sonora inédita, efeitos e animações incomuns até mesmo para a Source, juntamente com mínimas alterações na campanha, já transforma Black Mesa em uma obra corajosa e, consequentemente, suficientemente diferente para não substituir, de forma alguma, o original. Tudo isso, somado ao trecho final do jogo retrabalhado, faz com que Black Mesa se assemelhe a uma experiência alternativa da mesma jornada. Uma caminhada, assumidamente diferente, mas que segue a mesma rota.
Isso não o diminui; muito pelo contrário. O aproveitamento que tive deste jogo se deve, em grande parte, a essa liberdade que os desenvolvedores acataram.
A sensação é que o "gamefeel" é semelhante o suficiente para transmitir a sensação de estar em uma espécie de revisita ao clássico da Valve, ao mesmo tempo que é significativamente diferente a ponto de não se parecer com Half-Life 1 ou o 2. Essa percepção é reforçada, sobretudo, ao correr, pular e até mesmo durante os confrontos armados. Jogando na dificuldade nomeada de "Black Mesa", que aqui parece ser o meio termo entre a mais fácil e a mais difícil, senti que precisei optar por abordagens menos agressivas do que no original, especialmente contra os soldados cujas armas são hitscan, ou seja, infligem dano instantâneo em vez de atirar projéteis evitáveis.
Além disso, a atmosfera se mostra única também. Ouso dizer que transmite um ar mais épico, especialmente nas sequências mais marcantes, as quais foram grandemente aprimoradas pela nova trilha sonora criada especialmente para o Black Mesa. No geral, a sonoridade que Joel Nielsen traz ao jogo segue uma linha de Eletro Industrial, mas surpreende com um toque de New Age lindíssimo nos trechos em Xen.
XEN ESTÁ APAIXONANTE
Falando em Xen, sim, achei tão linda e divertida como dizem. Este último terço do jogo valoriza muito a obra. Muitos julgam esta etapa em Half-Life como a pior e mais chata, e, embora eu não a considere totalmente ruim, devo admitir que adorei a forma como a refizeram em Black Mesa. Uma das minhas críticas ao original é que as repentinas sessões de plataforma introduzidas nestes trechos eram inconvenientes e nada divertidas, mas aqui são melhor aproveitadas e vêm acompanhadas de novos conteúdos, como cenários, set pieces e puzzles. Até o storytelling foi bem executado, investindo de maneira eficaz no worldbuilding para contar a história, por meio da apresentação do ambiente, da reação dos personagens, etc.
Destaco que a experiência de ter visitado esta Xen foi realmente mágica, um deleite aos meus sentidos, encantando-me com um tom contemplativo. A paleta de cores escolhida para o céu, com fortes tons de roxo e azul, somada à bela cena das criaturas alienígenas voando, tudo ao som de uma música relaxante e meditativa, cuja melodia é entrelaçada por um vocal agradável... Enfim, foi uma conclusão com chave de ouro. Sério, dê uma escutada nisso.
CONCLUSÃO
Black Mesa reflete, acima de tudo, coragem e cuidado por parte da desenvolvedora, que ousou reimaginar uma obra considerada tão importante e intocável. Concluí o jogo, admirando ainda mais o árduo trabalho de 16 anos da Crowbar Collective, que não à toa teve seu lançamento e comercialização permitidos pela própria Valve. Essa liberdade e incentivo que a empresa dá aos fãs é virtuosa para suas franquias e me faz ansiar por mais projetos assim.
Este texto foi revisado e editado por Gabriel Morais de Oliveira (@GabrielHyliano)
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Joguei todos no lançamento! Sim ja sou velho... :-P