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A importância de Resident Evil 4 para a indústria de jogos — Artigo

Resident Evil 4 pode ser considerado um dos jogos com o desenvolvimento mais complexo dentro da CAPCOM, e talvez até da história dos games como um todo. E não é à toa que ele funciona como um dos pilares dessa mesma indústria que ele ajuda a movimentar. Mas por quê exatamente?


Arte de capa do jogo Resident Evil 4 para o Nintendo Switch
Reprodução: Nintendo

O jogo começou como um projeto que fazia parte de um contrato de exclusividade entre a CAPCOM e a Nintendo para o GameCube, que já havia gerado dois frutos muito bons: O lendário Resident Evil [Remake] e o honesto Resident Evil 0. Mas os ânimos começaram a estremecer quando a desenvolvedora percebeu que o NGC não havia decolado e um de seus projetos mais ambiciosos poderia sofrer amargas vendas preso a um sistema que não agradou tanto o mercado. Afinal de contas, mesmo sendo o mais potente de sua geração, a concorrência com o PlayStation 2 e o Xbox deixou o console da Nintendo comendo poeira.


Esse embate, inclusive, foi o responsável pela saída de Shinji Mikami da CAPCOM, uma vez que o criador da série e idealizador deste quarto episódio foi categórico em sua decisão por manter a exclusividade, e se recusou a colocar sua equipe para trabalhar em portar um jogo que já estava basicamente pronto e interligado a um ecossistema específico. E qualquer quebra desse acordo resultaria em seu desligamento da empresa. E a CAPCOM assim o fez.


Mas essa era só a ponta do iceberg de um projeto que começou em 1999 e foi finalizado apenas em 2005, com o lançamento do jogo (inicialmente no GameCube, posteriormente no PlayStation2). Seis anos hoje em dia não é “nada”, mas para a época, foi o resultado de muitos adiamentos e projetos descartados.


TODAS AS FACES DE RESIDENT EVIL 4

A primeira versão de Resident Evil 4 contava com Hideki Kamiya na liderança, e girava em torno de um protagonista que possuía poderes sobre-humanos e inteligência acima do normal, e precisava combater o mal propagado pela Umbrella com estes dons. Kamiya havia dirigido Resident Evil 2, e até então não tinha o currículo que possui hoje.

O projeto foi rapidamente descartado por não se parecer tanto com Resident Evil até então, fugindo da essência da franquia. A equipe responsável, liderada por Kamiya, decidiu não descartar esse material, e ali nasceu Devil May Cry, uma das séries mais emblemáticas da CAPCOM.


A partir daí, o jogo voltou para a prancheta de desenhos e foi refeito diversas vezes, em diversos formatos, com inúmeras situações que nunca pareciam ser o suficiente para uma série que já tinha sua identidade formada, mas que estava caindo na mesmice, e precisava de algo novo, sem perder a essência.



Papel de parede do jogo Haunting Grounds da CAPCOM
Reprodução: CAPCOM

Uma dessas versões chegou a etapas bem adiantadas de desenvolvimento, existe até um vídeo de um beta do jogo com Leon alucinando por efeito do vírus. Outras viraram lendas, como aquela que existia apenas em roteiro, com uma menina que ajudava Leon em sua aventura resolvendo puzzles, e os dois recebiam a ajuda de um terceiro protagonista: um cachorro. Essa versão foi “semi-descartada”, uma vez que a menina que ajuda Leon e resolve puzzles se transformou na Ashley, e o cachorro, que também o ajuda, acabou se tornando um dos momentos mais icônicos do jogo. E o material original, da menina com o cachorro, deu origem a Haunting Grounds, que apesar de ser um excelente jogo de sobrevivência, sofreu por ter sido lançado muito perto de Resident Evil 4, e acabou ofuscado. Mas tudo isso fica no campo da especulação e do imaginário das “histórias que o povo conta”. Menos a parte do jogo sofrer, ele foi absolutamente massacrado pelo sucesso de RE4.


No final das contas, Shinji Mikami assumiu a direção e deu vida ao Resident Evil 4 que conhecemos hoje.


O JOGO QUE MUDOU A INDÚSTRIA

A importância do quarto episódio da série Resident Evil não se deu apenas na CAPCOM, ou na curta exclusividade do GameCube, mas em toda a indústria de games. O jogo conseguiu mudar tudo o que se conhecia até então, e muitos ainda dizem que mudou demais, perdendo um pouco da sensação de horror iminente que existia na franquia. Mas o mais importante nessa história de idas e vindas, foi o impacto que RE4 teve na forma de se produzir videogame dali pra frente.


Abandonando a maior característica da série, que eram os cenários estáticos por onde o personagem se movia, criando uma sensação única de perigo iminente e claustrofobia, o quarto jogo numerado da franquia apostou em ambientes dinâmicos, processados em tempo real em três dimensões, permitindo que Leon se movimentasse mais livremente, e em ambientes mais amplos.


Imagem do jogo Resident Evil 4 com Leon sendo atacado no vilarejo
Reprodução: Nintendo


Mal sabia a CAPCOM (ou sabia porque ela não é boba) que estava criando um dos pilares da indústria, naquele 11 de janeiro de 2005. Tudo o que seria criado dali pra frente, em jogos com ambientações dinâmicas em 3D, levaria Resident Evil 4 como base, como inspiração. Movimentações de câmera, ângulo dos personagens, draw distance, RE4 estava inaugurando um estilo que iria pautar aventuras por muitos e muitos anos, e ainda o faz.


O JOGO QUE MUDOU RESIDENT EVIL

Mas nem todas as mudanças viriam para o bem. RE4 foi inovador em tudo o que se propôs, tão inovador que inovou a própria IP. O terror ainda estava ali. Muitos cenários escuros, passagens estreitas, inimigos que surgem do nada, todos os elementos que imortalizaram a série iriam atormentar Leon em sua aventura pelo vilarejo misterioso da Europa. Mas os ventos da mudança sopraram forte demais.


Resident Evil 4 é um ecossistema próprio dentro da série, ele segue diretamente os eventos do capítulo 2 e 3, mas não tem as amarras da trama que os outros jogos possuíam. Tudo é muito sutil e incidental quando se trata de referenciar o que já havia acontecido até então. O que deixa o jogo um pouco vazio em narrativa, mas que foi compensado com seu gameplay frenético e intenso, fazendo com que o jogador se esqueça que existe um plot a ser acompanhado, e se preocupe apenas em sobreviver.


Imagem do jogo Resident Evil 4 no Nintendo Switch
Reprodução: Nintendo


O balanço entre ação e terror é preciso. E com a nova jogabilidade a série precisava de dinamismo, o que fez com que a ação entrasse no jogo (trocadilho intencional), mas sem perder a essência de terror tão marcante até então.


Entretanto, esse balanço foi mantido apenas no 4. A partir dali, com os episódios 5 e 6, Resident Evil se transformou apenas em um jogo de ação, e mais uma vez a série caiu em um lugar comum, em um looping que parecia impossível de sair, mas isso é assunto para outro texto.


ATÉ PARA MICROONDAS

Qual o jogo mais portado da história? O que está no maior número de plataformas? Resident Evil 4 não é o primeiro, mas ele passa perto. Depois que a exclusividade com o GameCube foi quebrada, e de estar muito mais acessível no PS2, a Nintendo tentou mais uma vez, trazendo o jogo para o Wii, no que eu considero a melhor versão já feita: Resident Evil 4 Wii Edition. E a partir daí não havia quem parasse o jogo mais popular da CAPCOM. Todo mundo sabe que até o Zeebo tem uma versão, mas o que talvez nem todos saibam é que o iPhone e iPod Touch também tinham. E eu, Angelo, particularmente acredito que o maior erro da empresa foi nunca ter feito uma versão para 3DS, utilizando a engine de REvelations.


Imagem do jogo Resident Evil 4 rodando em um iPhone
Reprodução: CAPCOM-Unity Brasil


E esse sucesso está longe de ser casual ou incidental. Muito pelo contrário. Resident Evil 4 é um dos jogos mais bem desenvolvidos dentro da indústria. Ele tem seus problemas, mas a equipe responsável pelo jogo soube como trabalhar com primor a jogabilidade de uma aventura com proporções gigantescas em uma época em que os jogos 3D ainda estavam se entendendo e tomando forma. O estilo aplicado foi atemporal, fazendo com que ports da versão original funcionem até hoje com mecânicas atuais e que se adaptam a qualquer controle, em qualquer geração.


Mas e o Remake? Bom, isso fica também para outro texto porque a versão de 2023 é mais uma reimaginação do quem um remake. Todos os Resident Evil atuais, o 1 do GameCube, o 2, o 3 e o 4, seguem por essa linha. Mas independente do que foi reimaginado, o que foi IMAGINADO originalmente serviu como base, não apenas para o novo RE4 que jogamos este ano, mas para o andamento da indústria de games e como a conhecemos hoje.



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